sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

As Luzes da Noite

Ela tinha os olhos castanhos perdidos na penumbra da noite.
As pessoas sorriam  para ela de uma maneira especial quase magica e ela imaginou que poderia ficar ali para sempre.
"As luzes! As pessoas nas luzes!"
Um jovem de cabelos longos e loiros esbarrou nela. Um “desculpa ae gata” a fez sorrir e pela primeira vez desejou desesperadamente estar com uma jaqueta de couro e um rímel em sua bolsa.
“É real, as pessoas nas luzes são reais. Eu sou real”.
Dentro de seu coração batidas violentas a transbordavam e por poucos instantes seus pensamentos se fundiam com a sensação de leveza que aquele lugar lhe passava.
Caminhou com seu jeans desbotado e sua camiseta branca até o balcão do bar onde se podia ouvir risadas do interior, o dono a olhou por cima dos óculos dando uma risadinha de canto.
-O que vai querer?
Ela não sabia o que queria...  Mas queria ficar lá para sempre. Sempre perto daquela emoção, das luzes...
- Uma cerveja...  -  Disse incerta -   E um cigarro.  - Não fumava mas que importância faria. Ali ela era outra pessoa, alguém que realmente interessava. Ali tinham pessoas reais, assim como ela.
Uma garrafa e um maço foram postos a sua frente. Ela os olhou como se diante de si estivesse uma verdade imutável. Uma nota de vinte reais foi posta sobre a mesa.
-Não quero troco - Ela disse orgulhosa de si mesma, o dono do bar tornou a abrir um sorriso de canto e ela percebeu que não tinha medo de nada.
As vozes do interior daquele ambiente a chamavam.  Foi caminhando devagar passando pelo balcão e adentrando em um universo em que seu coração parecia bater no mesmo timbre da musica de fundo.
Sentou-se numa mesa de fundo observando as moças e rapazes diferente que entravam, casacos pretos, jeans rasgados, jaquetas de couro, tatuagens, piercings , dreads,moicanos, cabelos vermelhos, loiros, pretos e muitas vozes... Vozes felizes, embargadas pela mesma emoção que ela. 
Havia vida naquele lugar! Vida!
Achou não estar a altura  do local e desejou ter amigos pra desfrutar de tudo aquilo, mas todos os que ela conhecia estavam longe e confortáveis demais para isso. A musica se tornou alta e intensa e nas luzes piscantes ela pode ver corpos se movendo tremulamente. 
Lágrimas de solidão saltaram de seus olhos castanhos, mas elas se perderam, a sensação de solidão era reconfortante e ela não se importou ficou apenas observando seus objetos de desejo e cobiça. " Quero ser como essas pessoas nas luzes! Quero ser como elas".
Olhou para o maço de cigarros a sua frente. abriu a cartela devagar e retirou um cigarro com cautela. Conforme o levava a boca se deu conta que não tinha isqueiro ou uma caixa de fósforo e aquilo a apavorou, pois uma ideia ocorreu-lhe na cabeça.
- Terei de pedir um isqueiro emprestado? Terei de falar com as pessoas nas luzes! Terei de falar com elas! Óh Céus -  Suas mãos tremeram com está possibilidade, uma certa emoção tomou conta dela fazendo com que uma tontura a atingisse como uma onda de fim de tarde. Cogitou em ir comprar com o dono do bar, mas a ideia de alguma forma amedrontara mais e ela ficou ali com um cigarro nos lábios, presa e petrificada como uma estátua de buda. 
-Quer fogo? - Era a voz do “desculpa ae gata”, ela se virou devagar e soltou o cigarro dos lábios pegando-o com a ponta dos dedos. Ele estava sentado ao seu lado com os cabelos soltos e desgrenhados, sorria para ela de um jeito diferente como ela jamais virá em toda a sua existência. "Ele sabe que estou aqui sozinha! E se ele..." Mas tais pensamentos foram varridos quando ela percebeu que os olhos dele estavam pregados aos dela inquisitivos de resposta.
-Quero - Ela respondeu. - Ele limitou-se a tirar um isqueiro de prata do bolso acendendo o cigarro para ela. Ambos sorriram um para o outro e ficaram ali sobre as luzes, enquanto o cigarro ia queimando devagar, como se o mesmo tivesse tentando sobreviver a cada tragada sem vontade dela , assim vieram as perguntas, a garrafa de cerveja se esvaziando, pessoas que vão se conhecendo.
Nas luzes da noite as pessoas se transformam. 
Em algo maior, melhor e mais forte. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Balada dos 20 Anos.

Parece que o mundo de repente resolveu me encher de pancada... É trabalho, casa, família e cobrança... Só cobrança... Não cobrança do tipo “Tony você tem que estudar entrar na faculdade mudar de vida! Ser alguém!” a cobrança é da empresa de gás, luz, telefone, água e aluguel mesmo.
Antes minha vida era chegar em casa, jogar um game, sair para namorar, bater um papo com os amigos, matar aula e vagabundear por ai. Ficar de boa. Sossegado. Mas acredito que eu nunca ia poder continuar assim, principalmente quando você percebe que a areia da ampulheta está aos poucos se esgotando e não dá simplesmente para virá-la ao contrário.
Agora estou aqui, ouvindo o Tic Tac incessante do relógio numa lentidão de minutos e segundos intermináveis. Não há mais tempo de jogar com os amigos, principalmente porque os amigos, desapareceram, mudaram, casaram, se tornaram pais e simplesmente sumiram!
As horas parecem ter ficado lentas e ao mesmo tempo rápidas num ritmo descompassado, louco, pirado, principalmente no trabalho. Ah o trabalho... Como me sinto preso aos costumes e convenções, sorrir pra todo mundo quando a minha vontade é outra, aguentar abraços e comprimentos falsos, tudo pra esconder a dor e bancar o tempo todo o profissional.  Ser educadinho e gentil com todo mundo.
Alguém, por favor, pode parar essa máquina que eu quero descer dessa droga! Tá tudo girando,... Girando... Girando como se nada fosse parar.
Não estou reclamando da vida, eu nem ao menos comecei a vivê-la nos meus poucos 20 anos, simplesmente porque pra mim todos os dias são iguais e começam às quatro e meia da manhã, que é quando eu acordo, Eu não gosto de acordar, porque adoro viver em meu mundo de sonhos. Então levanto tomo meu banho, não... Não tomo café, me dá angustia viver acordado e não preciso e nem quero estar desperto não.
                Depois enfrento uma jornada de duas ou três horas infernais dentro de um ônibus, por incrível que pareça percebo que as pessoas que sentam do meu lado são únicas, nunca mais as verei de novo, elas geralmente não me notam, não pensam nisso, pra elas tanto faz... O que importa é sempre o destino que seguem, o ponto em que vão descer.
                Então quando eu também chego ao meu ponto, saio correndo, agora é tudo muito rápido, chego ao trabalho e bato cartão. Sento na cadeira, respiro fundo, faltam cinco minutos pras sete, relaxo um pouco, fecho meus olhos e apenas penso no fim de semana. Penso na noite enorme, e no encanto da escuridão, a noite tem o poder de transformar as pessoas em mais interessantes. Abro meus olhos. Sete horas ligo o computador e mais um dia enfadado começa. 
 Cinco horas. Ainda estou sentado olhando pra papelada em cima da minha mesa, o trabalho sempre acumulado. Eu sempre acabo ficando até mais tarde. Às vezes tento conversar com meus colegas, mas todo mundo é muito sério, é sempre tudo muito sério.
Quando chego em casa, lá estão meus pais, tão frágeis como porcelana, sempre contemplando uma visão além da minha, falando de suas experiências, desejando e planejando mentalmente o melhor pra mim (ou o que eles acham que é melhor).
E sinceramente eu odeio tudo isso!
Todo mundo fica naquela "você é jovem tem todo o tempo do mundo pra decidir o que você quer da sua vida" O problema é quando o seu tempo acaba e você percebe que tá todo mundo caminhando e você está ficando pra trás.
                Lembrei-me da Aninha, minha ex-namorada. Tínhamos sonhos de ouro, fazíamos planos o tempo todo ouvindo Sweet child o mine.  De repente tudo mudou quando terminamos a escola, ela vivia estudando, trabalhando e extremamente estressada dizendo que eu não seria nada na vida, que eu iria ficar pra trás. Minha doce criança ficou amarga, mais que amargurada. Semana passada fiquei sabendo que ela casou, com um cara gringo que sabe falar inglês. Fiquei pensando em seu rosto e que talvez fosse melhor esquecer, porque Deus sabe agora quando a verei de novo. Talvez nunca mais.
                Final de semana, a noite me consome, ando pela madrugada como um cão abandonado, encontro meus antigos amigos, velhos conhecidos e conheço pessoas novas, mas no meio da noite elas somem  pela madrugada e durante a semana sou tragado pela angustia, quero logo que chegue o fim de semana, mas ele demora ....
                Tudo recomeça tristemente desde o meu acordar até encontrar os rostos de porcelana dos meus pais. Vez ou outra esqueço as contas e elas surgem pra me atazanar. Eu vou ao banco, as pago. Às vezes esqueço que também virei cidadão que já voto e na maioria das vezes é difícil escolher... Senhor que agonia! Onde está a minha emoção de viver que eu perdi na balada dos 20 anos? Viver não é fácil e ainda não encontrei razão para isto porque adolescer foi um sonho doce que de repente amargou? Onde foi parar a alegria dos 20 anos? Minha independência tão sonhada dos 15? Tão desejada aos 17 e consumada aos 18? Eu ainda não vi graça em crescer, em me tornar adulto e como dói ouvir que sou adulto.

                

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Fim

Então adeus...
Vai te meu amigo
vai pra ver o que o mundo fara contigo e verás
que teu problema nunca foi maior que o meu

Vai!
Foge de mim, como quem foge de uma adaga.
Corre pela madrugada.
Mas não volta com tuas lágrimas pensando que
as enxugarei eu.

Vai-te!
Não, não olhas pra trás
porque a tua partida me perturba
e pior que a ilusão que criei,
É pensar que por causa de ti fiz renuncias.

Vai te
tão logo
dize-me Adeus!!
Para que eu saiba
que  o jamais e o nunca  se puseram entre nós

Adeus!
Aqui jaz pedaço da minha alma
memória ingrata
de você e Eu.


.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ode ao Adeus.


Agora sim,
Desfizemos nossas almas
em sombras pela madrugada
procurando em reflexos distintos
parte de nós.

Agora sim,
Pude ver o quão machucada,
está a noite fria,
Em triste alvorada.
Pois em magoas
se dissipou.

Agora enfim,
Soltamo-nos do laço que nos prendia,
é um adeus acolhedor.
E em nosso abraço contorcido
Fica apenas a dor.