quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Balada dos 20 Anos.

Parece que o mundo de repente resolveu me encher de pancada... É trabalho, casa, família e cobrança... Só cobrança... Não cobrança do tipo “Tony você tem que estudar entrar na faculdade mudar de vida! Ser alguém!” a cobrança é da empresa de gás, luz, telefone, água e aluguel mesmo.
Antes minha vida era chegar em casa, jogar um game, sair para namorar, bater um papo com os amigos, matar aula e vagabundear por ai. Ficar de boa. Sossegado. Mas acredito que eu nunca ia poder continuar assim, principalmente quando você percebe que a areia da ampulheta está aos poucos se esgotando e não dá simplesmente para virá-la ao contrário.
Agora estou aqui, ouvindo o Tic Tac incessante do relógio numa lentidão de minutos e segundos intermináveis. Não há mais tempo de jogar com os amigos, principalmente porque os amigos, desapareceram, mudaram, casaram, se tornaram pais e simplesmente sumiram!
As horas parecem ter ficado lentas e ao mesmo tempo rápidas num ritmo descompassado, louco, pirado, principalmente no trabalho. Ah o trabalho... Como me sinto preso aos costumes e convenções, sorrir pra todo mundo quando a minha vontade é outra, aguentar abraços e comprimentos falsos, tudo pra esconder a dor e bancar o tempo todo o profissional.  Ser educadinho e gentil com todo mundo.
Alguém, por favor, pode parar essa máquina que eu quero descer dessa droga! Tá tudo girando,... Girando... Girando como se nada fosse parar.
Não estou reclamando da vida, eu nem ao menos comecei a vivê-la nos meus poucos 20 anos, simplesmente porque pra mim todos os dias são iguais e começam às quatro e meia da manhã, que é quando eu acordo, Eu não gosto de acordar, porque adoro viver em meu mundo de sonhos. Então levanto tomo meu banho, não... Não tomo café, me dá angustia viver acordado e não preciso e nem quero estar desperto não.
                Depois enfrento uma jornada de duas ou três horas infernais dentro de um ônibus, por incrível que pareça percebo que as pessoas que sentam do meu lado são únicas, nunca mais as verei de novo, elas geralmente não me notam, não pensam nisso, pra elas tanto faz... O que importa é sempre o destino que seguem, o ponto em que vão descer.
                Então quando eu também chego ao meu ponto, saio correndo, agora é tudo muito rápido, chego ao trabalho e bato cartão. Sento na cadeira, respiro fundo, faltam cinco minutos pras sete, relaxo um pouco, fecho meus olhos e apenas penso no fim de semana. Penso na noite enorme, e no encanto da escuridão, a noite tem o poder de transformar as pessoas em mais interessantes. Abro meus olhos. Sete horas ligo o computador e mais um dia enfadado começa. 
 Cinco horas. Ainda estou sentado olhando pra papelada em cima da minha mesa, o trabalho sempre acumulado. Eu sempre acabo ficando até mais tarde. Às vezes tento conversar com meus colegas, mas todo mundo é muito sério, é sempre tudo muito sério.
Quando chego em casa, lá estão meus pais, tão frágeis como porcelana, sempre contemplando uma visão além da minha, falando de suas experiências, desejando e planejando mentalmente o melhor pra mim (ou o que eles acham que é melhor).
E sinceramente eu odeio tudo isso!
Todo mundo fica naquela "você é jovem tem todo o tempo do mundo pra decidir o que você quer da sua vida" O problema é quando o seu tempo acaba e você percebe que tá todo mundo caminhando e você está ficando pra trás.
                Lembrei-me da Aninha, minha ex-namorada. Tínhamos sonhos de ouro, fazíamos planos o tempo todo ouvindo Sweet child o mine.  De repente tudo mudou quando terminamos a escola, ela vivia estudando, trabalhando e extremamente estressada dizendo que eu não seria nada na vida, que eu iria ficar pra trás. Minha doce criança ficou amarga, mais que amargurada. Semana passada fiquei sabendo que ela casou, com um cara gringo que sabe falar inglês. Fiquei pensando em seu rosto e que talvez fosse melhor esquecer, porque Deus sabe agora quando a verei de novo. Talvez nunca mais.
                Final de semana, a noite me consome, ando pela madrugada como um cão abandonado, encontro meus antigos amigos, velhos conhecidos e conheço pessoas novas, mas no meio da noite elas somem  pela madrugada e durante a semana sou tragado pela angustia, quero logo que chegue o fim de semana, mas ele demora ....
                Tudo recomeça tristemente desde o meu acordar até encontrar os rostos de porcelana dos meus pais. Vez ou outra esqueço as contas e elas surgem pra me atazanar. Eu vou ao banco, as pago. Às vezes esqueço que também virei cidadão que já voto e na maioria das vezes é difícil escolher... Senhor que agonia! Onde está a minha emoção de viver que eu perdi na balada dos 20 anos? Viver não é fácil e ainda não encontrei razão para isto porque adolescer foi um sonho doce que de repente amargou? Onde foi parar a alegria dos 20 anos? Minha independência tão sonhada dos 15? Tão desejada aos 17 e consumada aos 18? Eu ainda não vi graça em crescer, em me tornar adulto e como dói ouvir que sou adulto.